Você já parou para pensar em como Jesus devia se sentir sozinho? E não me refiro apenas aos momentos em que Ele se retirava para orar nos montes. Falo de uma solidão mais profunda: a de estar cercado de gente, mas quase nunca ser verdadeiramente compreendido.
Ao ler os evangelhos, uma das coisas que mais me tocam é perceber que os diálogos de Jesus parecem acontecer em duas frequências diferentes. É como se Ele falasse em FM, sintonizado na estação do Reino dos Céus, enquanto todos ao seu redor estivessem presos no AM, sintonizados nas preocupações e na lógica deste mundo.
A razão para isso é que Jesus falava a partir de Sua essência divina. Sua perspectiva não era a de um homem que olhava para o céu, mas a do Céu que se fez homem e olhava para o mundo.
E aqui está o que mais me impressiona: Ele nunca mudou de frequência para ser aceito.
Pense em nós. Para conviver, para pertencer, para não criar atritos, quantas vezes nós não ajustamos nosso discurso? Vestimos máscaras, suavizamos nossas convicções, escondemos o que realmente acreditamos. Fazemos isso com a família, no trabalho, entre amigos.
Jesus, não. Ele foi radicalmente fiel à Sua essência e à Sua missão: revelar Deus e salvar a humanidade. E essa fidelidade gerava diálogos fascinantes e cheios de desencontros.
Lembre-se de Jesus aos 12 anos, no templo. Seus pais, depois de três dias de uma angústia que qualquer pai e mãe podem imaginar, o encontram e perguntam: “Filho, por que você fez isso com a gente?” É uma pergunta da frequência terrena: preocupação, responsabilidade, família. A resposta de Jesus vem de outra sintonia: “Por que me procuravam? Não sabiam que eu devia estar na casa de meu Pai?” Eles não entenderam nada.
Ou pense na mulher samaritana, junto ao poço. Jesus, com sede, lhe oferece uma “água viva”. Ele está na frequência da alma, falando sobre a satisfação eterna que só Deus pode dar. Ela, compreensivelmente, está na frequência do corpo: “Senhor, o poço é fundo, como vais tirar essa água? Me dá dessa água para eu não ter que voltar aqui todo dia”. Ela queria resolver um problema prático; Ele queria resolver a sede da sua eternidade.
Eles falavam de coisas completamente diferentes. Mas Jesus, com paciência, se manteve em Sua frequência, até que, aos poucos, o coração daquela mulher começou a sintonizar na d'Ele. E ela foi transformada.
Se formos honestos, nós ainda vivemos nesse mundo de frequências diferentes. Nossa cultura pós-moderna, que colocou o ser humano no centro de tudo, tenta abafar a estação do Céu. Falar de pecado, de graça, de eternidade, parece um discurso desconexo e irrelevante para um mundo que colocou o ser humano no centro de tudo. Como o apóstolo Paulo disse, “a mensagem da cruz é loucura” para quem está sintonizado apenas neste mundo (1Coríntios 1.18).
As palavras espirituais de Jesus continuam soando estranhas, porque elas se recusam a fazer do homem o centro do universo. Elas apontam para Deus.
O nosso chamado, portanto, não é tentar “traduzir” Jesus para a frequência do mundo até que Ele se torne palatável. É, antes, o de pedir que o Espírito Santo recalibre o nosso próprio coração. É ter a coragem de abraçar a “loucura” do Evangelho.
Só então, quando começamos a sintonizar na Sua estação, é que Suas palavras deixam de ser um ruído confuso e se tornam o que realmente são: o poder de Deus, a mais clara e perfeita melodia da salvação.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te ajudou a ver os diálogos de Jesus com outros olhos, salve-a. E me conte nos comentários: em qual momento da sua vida você mais sentiu essa diferença de “frequência” entre a perspectiva de Deus e a do mundo?
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