A filosofia olha para o mundo por meio da razão, a teologia cristã
sob a perspectiva da fé. Cada uma destas duas ciências possui seus
pressupostos, ao invés de se digladiar e tentar provar qual das duas tem a
perspectiva correta, como acontecia no período do Renascimento e Iluminismo; nos nossos dias há entre os estudiosos mais profundos o reconhecimento de uma coexistência entre as
duas áreas. Sob esta perspectiva acadêmica atual, cada ciência possui seus
próprios: áreas onde cabe àquela ciência atuar conforme seus pressupostos.
Para a razão, a partir do pensamento de Descartes, tudo precisa
ser comprovado e o conceito de conhecimento científico surge daí. A fé envolve
tudo o que a Igreja Cristã já trazia como maneira de alcançar o pleno
conhecimento desde a Idade Média. A maneira com que a Igreja daquele tempo
administrava os dogmas e o conhecimento relacionado às escrituras era, por
vezes, manipuladora e causadora de interpretações radicais e injustiças. Foi um
tempo em que se desenvolveram grandes pensadores cristãos, como Agostinho, Tomás
de Aquino, Anselmo, entre outros. Por outro lado, a imagem da fé, sob uma
perspectiva geral, foi muito contaminada por conta da Igreja na Idade das
Trevas. O que muitos até hoje não entendem é que fé não se resume a
intolerância, irracionalismo, manipulação ou incoerência.
Razão e fé geraram uma discussão muito longa durante as diferentes
épocas da Igreja Cristã.
A teologia liberal adotou pensamentos próximos ao de Kant, que ignorou a metafísica, entendendo que o transcendente não está ao alcance da inteligibilidade humana. Portanto, para esta teologia, as reflexões que tomam por base o que é metafísico não existem ou não podem ser consideradas reais. Apesar de ser teologia, a linha liberal parte para uma interpretação pelo caminho da racionalidade e do criticismo, desconsiderando a fé.
Por outro lado, a teologia cristã, conforme o pós-pensamento de
Lutero, coloca a razão como um meio limitado de auxílio à fé, que é o principal
pressuposto de interpretação da revelação das escrituras. A razão, para Lutero,
deveria ser colocada no seu lugar, sem se sobrepor à fé.
Com isso, é possível verificar que a filosofia e a racionalidade
têm sua utilidade dentro da compreensão e sistematização da teologia. Todavia,
devem ser colocadas em seus devidos lugares, não como parâmetro principal do
que deve ser considerado real ou aceitável na interpretação correta das
escrituras, mas como um auxílio hermenêutico lógico.
Na teologia cristã, primeiro nos baseamos na fé, e depois a razão
deve ser utilizada como uma organizadora daquilo que já está revelado e
aceitamos por crer no conteúdo da Palavra de Deus.
Por Marlon Anezi
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