Amigos,
Por séculos, uma grande batalha foi travada no campo das ideias: Fé versus Razão. De um lado, uma fé pintada como cega e irracional. Do outro, uma razão fria e cética. Somos constantemente pressionados a escolher um lado, como se para crer em Deus precisássemos desligar nosso cérebro, ou para pensar de forma lógica precisássemos abandonar a fé.
Mas eu acredito que essa é uma falsa batalha.
É verdade que a história tem suas cicatrizes. Houve tempos em que a Igreja, em nome da fé, agiu de forma autoritária e manipuladora, manchando a imagem do Evangelho. Em reação, vieram tempos, como o Iluminismo, em que a razão se colocou como a juíza de todas as coisas, tentando provar ou descartar Deus em um laboratório.
Hoje, porém, muitos estudiosos reconhecem que Fé e Razão não são inimigas mortais, mas duas janelas diferentes para olharmos o mundo. Cada uma tem seu lugar, seu método e seu propósito. E na vida cristã, elas podem e devem caminhar juntas. A questão é: quem lidera a caminhada?
A tradição da Reforma Protestante, especialmente com Martinho Lutero, nos oferece um caminho que eu considero equilibrado e libertador. Gosto de pensar com uma analogia simples:
Pense na Fé como os olhos com os quais enxergamos a realidade de Deus, que nos foi revelada em Jesus Cristo e nas Escrituras. É um ato de confiança, de receber uma verdade que vem de fora de nós.
Pense na Razão como as nossas mãos. Depois que os olhos da fé veem essa verdade, as mãos da razão nos ajudam a examinar, a organizar, a entender e a articular aquilo que cremos.
A ordem aqui é fundamental. Nós não usamos as mãos para tentar construir a paisagem que só os olhos podem ver. Primeiro, nós cremos, nós olhamos pela janela da fé. Depois, usamos nossa inteligência, dada por Deus, para explorar a beleza e a profundidade do que nos foi revelado.
O perigo surge quando invertemos essa ordem.
Quando a razão se torna o juiz da fé, como aconteceu com a teologia liberal influenciada por Kant, ela começa a cortar tudo o que não consegue medir. Os milagres, a ressurreição, o sobrenatural... tudo o que não cabe na lógica humana é descartado como mito ou símbolo. A fé se torna refém do que a nossa mente limitada considera “aceitável”.
Por outro lado, uma fé que se recusa a usar a razão pode se tornar superficial, supersticiosa e incapaz de dialogar com as questões do nosso tempo.
Deus não nos chama para anularmos nossa inteligência para crer. Pelo contrário, o maior mandamento inclui amá-Lo “de todo o nosso entendimento” (Marcos 12.30). O chamado do Evangelho é para uma fé que pensa. Uma fé que começa com a confiança humilde na revelação de Deus e, a partir daí, usa todas as ferramentas da razão para se aprofundar nas maravilhas dessa verdade.
A razão, portanto, não é a dona da casa. Mas é uma serva muito valiosa.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te ajudou, salve-a. E me conte nos comentários: em sua caminhada de fé, como você tem buscado harmonizar a sua fé e a sua razão? É uma luta ou uma dança?
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