Salva-te a ti mesmo, e desce da cruz. Mc 15.30
A inimizade do mundo caído com a cruz de Cristo tem atingido
a Igreja, de modo que as palavras e expressões: cruz, sacrifício, sangue
derramado já não são mais tão frequentes nos hinos, pregações e conversas entre
cristãos. Lembro-me de uma vez que no ministério de louvor que participava,
anos atrás, havia escolhido um hino para cantar com a congregação no próximo
culto que dizia: “cordeiro que foi morto, mas hoje vivo está, em breve no Seu
trono pra sempre reinará.” O hino foi retirado da seleção de músicas para
cantar com a congregação, pois a expressão “cordeiro que foi morto” soava
pesado para uma das integrantes do grupo de louvor. O hino foi substituído por
outro que fosse mais apreciado pelo ministério de música.
Pedro queria evitar que Jesus fosse para a cruz ao falar que
isso nunca aconteceria a ele (Mt 16.22), ao defendê-lo cortando a orelha
direita do soldado Malco (Jo 18.10). O evangelho no coração de Pedro era um
evangelho existencial, baseado na autodefesa, na força do braço e na evitação
do sofrimento. O ladrão da cruz também vivia sob este mesmo evangelho, ele diz:
“salva-te a ti mesmo, e desce da cruz.” Para ele, a salvação está fora da cruz,
mal sabia ele que Jesus não necessitava de salvação. Ele é o próprio Deus, o
dono e portador da salvação. Só compreendemos Cristo quando consideramos o fato
de que Ele é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Olhando para Jesus enquanto
verdadeiro homem, compreendemos que Ele faz a vontade do Pai em todo tempo, Ele
reflete o Pai em Sua vida, o amor do Pai por nós não lhe permite descer da cruz
e renunciar a morte.
Sem a morte de Cristo não temos vida. Sem a cruz não temos
vida. Aqueles que compreenderam isso passaram a viver a partir da cruz,
compreendendo que na fé cristã descer da cruz não é sinônimo de salvação, como
um dos ladrões da cruz pensava. Descer da cruz é, na melhor das hipóteses,
salvar a sua vida por alguns instantes para perdê-la logo depois, enquanto
carregar a cruz e ser crucificado implica em viver, em achar a vida verdadeira.
Jesus nunca ensinou algo diferente disso. Falar sobre a morte na cruz e tudo
que está relacionado a este assunto não é um problema atual. No período em que
Cristo esteve nesta terra, a cruz já gerava em si um escândalo.
Hoje não precisamos repetir este erro, precisamos aprender a
considerar o precioso sacrifício de Jesus como um privilégio grandioso dado a
nós. A maior demonstração de amor que já houve, em todos os tempos e lugares,
foi dada por Ele ao morrer na cruz por nós. Não podemos ignorar esta
demonstração de amor que Ele nos deu, não podemos simplesmente alimentar a
nossa vontade de falar sobre aquilo que não nos causa dor. Fomos chamados para
encontrar a vida diante da cruz, tomando a nossa cruz e participando dos
sofrimentos de Cristo. Somos chamados por Deus para viver alegria em meio ao
sofrimento, fé em meio à tempestade e vida através da cruz. Não é fácil, mas em
todos os momentos podemos contar com Ele.
Por Marlon Anezi
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