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A fé autêntica: além da religião quantificada

Muitos religiosos do tempo de Jesus viviam sob uma ética quantificável. Guardavam determinados dias e festas, davam o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, porém, viviam sob negligência em relação à preceitos muito importantes, que diziam respeito à prática da justiça, misericórdia e fidelidade. Mt 23.23

A ética quantificável à qual me refiro é aquela baseada em cálculos que trazem uma sensação de segurança àqueles que a praticam. É por isso que ser religioso é mais fácil do que ser espiritual. Ser religioso significa guardar um dia específico da semana, enquanto ser espiritual é procurar a vontade de Deus todos os dias, descansando em Cristo em todo o tempo. O religioso pensa que pode garantir que está fazendo bom uso do seu dinheiro e que está justificado perante Deus através dos 10% que dá todo mês à sua igreja. Mas o padrão quantificável de 10% não passa de um descargo de consciência ou uma opção a seguir. O homem espiritual sabe que 100% de sua renda depende de Deus e deve ser usada em prol de sua causa.

Você pode se assustar e pensar: como assim? Ao invés de 10%, tenho que dar um dízimo de 100%? Não, veja bem. O que é para você a causa de Deus? A igreja é uma delas. A causa de Deus é sustentada quando você responsavelmente provê o necessário à sua família, ao pobre e ao necessitado — aquilo que os religiosos do tempo de Jesus não faziam. Eles estavam preocupados em fazer o mais fácil, dando seus 10% de tudo à religião, pois assim passavam seus dias com a consciência livre dos problemas dos outros. Isso não permitiu que vivessem misericórdia. Hoje, muitas igrejas cristãs vivem uma cultura idêntica, uma ética quantificável. Eu guardo um dia e descanso o suficiente, eu dou 10% na casa de Deus e já fiz o suficiente, eu me batizei uma vez na vida, sendo assim não preciso mais procurar matar o velho homem e tornar-me de novo a cada dia nova criatura, tomei a ceia e obtive meu perdão dos pecados, já fui ao culto esta semana, já cumpri meu papel diante de Deus.

Criamos quantificações que pensamos ser a dosagem certa para uma vida cristã responsável, quando na verdade Ele nos diz: 'Isso que você está fazendo é importante e deve continuar sendo feito, mas e quanto às coisas não quantificáveis? Onde elas estão em sua vida? Você se esconde atrás da observância de dias, do dízimo que dá, da sua frequência semanal na igreja, quando na verdade você deve me cultuar com tudo o que faz, em todo o tempo. Onde estou em sua vida nas coisas não quantificáveis? Naquele momento em que não está na igreja e deveria estar conectado comigo, naquele momento em que decide utilizar o seu dinheiro em algo que me desonra e prejudica a si próprio, onde Eu estou em sua vida nesses momentos?'

Uma nova consciência precisa ser criada em nós, não mais dirigida por leis e mandamentos, mas uma que viva de acordo com o evangelho dado por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Consolador, Espírito Santo, prometido a nós, o qual está conosco em tudo o que fazemos, pois Ele mora em nós. Assim, não importa mais uma obediência externa, mas sim uma experiência real, uma vida que de fato professe a Cristo em todo o tempo e que enxergue Ele em tudo para que Ele de fato reine sob nosso ser.

Por Marlon Anezi



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