Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2022

Quando 10% não é o suficiente (e não estou falando de dinheiro)

Há uma parte de mim que adora regras claras e caixas para marcar. Ir à igreja no domingo? Feito. Dar o dízimo? Feito. Fazer minha oração diária? Feito. Existe um conforto nisso, uma sensação de dever cumprido, de segurança. Uma régua que parece medir a nossa fidelidade.                                        E é exatamente nesse lugar de conforto que as palavras de Jesus em Mateus 23 me encontram e viram a minha mesa. Ele olha para os religiosos de sua época, homens que eram impecáveis em suas práticas mensuráveis — eles davam o dízimo de cada erva da sua horta, da hortelã, do endro e do cominho — e faz uma acusação devastadora: vocês fazem tudo isso, mas se esqueceram do mais importante. Esqueceram da justiça, da misericórdia e da fé. Eles eram mestres na ética quantificável , mas reprovavam no que não se pode medir. E eu me pergunto: será que nós também não caímos na mesma armadilha? É ...

Deus vai salvar todo mundo?

No fundo do meu coração, a minha vontade é gritar um sonoro “sim!”. Quem não gostaria de acreditar que, no final, todos, sem exceção, encontrarão a graça e a salvação? Lembrei disso há um tempo, ao assistir a um filme da Netflix chamado “A Caminho da Fé”. Ele conta a história real de um pastor, Carlton Pearson, que, ao se deparar com as notícias do genocídio em Ruanda, entrou em uma crise profunda. A angústia dele era palpável: como um Deus de amor poderia condenar ao inferno milhares de pessoas que sofreram tanto e morreram sem nunca terem ouvido falar de Jesus? A pergunta daquele pastor ecoou dentro de mim, porque ela toca numa ferida que todos nós, em algum momento, sentimos. Ninguém gosta de falar sobre o inferno. E, para ser honesto, com razão. Por muito tempo, usamos essa palavra e a ideia de condenação de uma forma leviana, às vezes até cruel. Hoje, muitos de nós creio que somos mais sensíveis, questionamos mais, e isso é bom. Mas essa sensibilidade não anula a pergunta. E eu s...

A tentação de descer da cruz

Eu preciso te contar uma coisa que aconteceu em 2014 e que nunca mais saiu da minha cabeça. Eu participava do ministério de louvor da igreja que eu frequentava e, um dia, sugeri um hino que dizia: “Cordeiro que foi morto, mas hoje vivo está...” . Para mim, era a essência da nossa fé. Pouco tempo depois, descobri que a música tinha sido retirada da lista. A justificativa? A expressão “cordeiro que foi morto” soava muito “pesada” para uma das integrantes. Naquele momento, trocamos por outra canção, uma que soava mais leve, mais palatável. Aquilo me marcou. Não por julgar a pessoa, mas porque eu reconheci ali, de forma muito clara, um sentimento que mora em todos nós: um profundo desconforto com a dor, com o sacrifício, com a cruz. A verdade é que, se a gente for sincero, o nosso instinto natural é sempre fugir do sofrimento. E, sem perceber, nós projetamos esse desejo na nossa fé. Queremos um evangelho mais leve, um Jesus vitorioso, mas sem as feridas. Um rei no trono, mas sem o cordeiro...