Há alguns anos, mais precisamente há 9 anos atrás, preguei na Igreja uma mensagem no domingo de Páscoa que até hoje não me esqueço. No dia em que recebi o convite, solicitaram-me uma mensagem que fosse cristocêntrica e que estivesse ligada ao assunto da ressurreição de Cristo, um tema muito falado e lembrado neste período pascal.
Deus foi me revelando enquanto pensava sobre o que ia falar, uma análise comparativa à qual nunca havia percebido antes. O ciclo de dias que precede a ressurreição de Cristo (desde a quinta-feira até o domingo) tem significados especiais e específicos, que dizem muito sobre aquele tempo da morte e ressurreição de Cristo, sobre o tempo que estamos vivendo atualmente e sobre o que ainda acontecerá, de acordo com a Bíblia.
Para começar, vou falar brevemente sobre a quinta-feira. Este dia eu denomino como o dia da angústia. Cristo se sente angustiado, terá que enfrentar a cruz e sofrer escárnios sem revidar, terá que ser constantemente agredido e como um cordeiro calado se entregar à morte. Neste mesmo dia, foi traído e sabia que iria ser abandonado pelos seus discípulos no dia posterior. Ele sabia o que o aguardava, conhecia a profecia de Isaías 53.7 que tanto citamos. Para nós, o Seu sofrimento é motivo de glória, para Ele era um destino e uma missão da qual não poderia fugir. E no Getsêmani, Cristo pede ao Pai que passe dele aquele cálice de sofrimento (Lc 22.42). A angústia que precede o sofrimento é algo presente em nossas vidas, saber que vamos passar por algo ruim nos traz a angústia. Cristo buscou Seu refúgio em Deus Pai no dia da angústia. Deveríamos, diante da angústia, seguir o Seu exemplo ao dizer:
"Pai, se queres, afasta de mim este cálice; entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu desejas!"
Na sexta-feira, o dia da morte e sofrimento, Jesus sofreu tudo o que já estava predito. Morreu sob sofrimento terrível na cruz do Calvário, foi preso, julgado e torturado. Antes de sua morte, uma de suas falas mais marcantes é:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46).
No Salmo 22, Davi já havia expressado com palavras o sentimento de abandono por parte de Cristo. Naquele momento, há uma separação entre Deus Pai e Deus Filho, existia algo que os separava e provocava profundo sofrimento em Cristo. Porém, para que pudesse cumprir Sua missão de resgatar o ser humano pecador de sua iniquidade, Sua morte e sofrimento eram necessários.
Todos nós, um dia passaremos pela morte e sofrimento, e diante da morte talvez nos questionemos a respeito de Deus e se Ele nos abandonou. Mas Ele nos assiste e mesmo através da morte cumpre Seus propósitos em nós. Como diz Paulo:
“Se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor.” (Rm 14.8)
Independentemente do nosso estado, se vivos ou mortos, o que de fato importa é sermos do Senhor.
No sábado, o dia do descanso (até aquele período para muitos judeus), inclusive o Evangelho segundo Lucas fala sobre como as mulheres descansaram naquele dia (Lc 23.56). Cristo também descansou na tumba até o momento apropriado de Sua ressurreição no domingo.
Após a morte, todos passaremos pelo descanso até o dia do retorno de Cristo. Este período de descanso também é mencionado por Paulo em Tessalonicenses, quando afirma que os mortos dormem. Confira o que o apóstolo diz:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele.” (1Ts 4.13,14)
Este sono representa um período de inatividade que desfrutaremos caso Cristo não volte em nossa geração. Assim como para os judeus ou a Igreja da Antiga Aliança, o sábado representava o dia do descanso, na eternidade descansaremos para sempre em Cristo. Despertaremos do sono da morte e então permaneceremos em eterno descanso. Neste descanso, realizaremos e construiremos, porém, sem sentir cansaço. (Is 65.21-25)
No domingo, o dia da ressurreição, a tumba então se abre e Cristo da morte volta à vida. A alegria da ressurreição é desfrutada primeiramente pelas mulheres que o veem, depois pelos seus discípulos e no final das contas por 500 pessoas que se tornam testemunhas da Sua ressurreição (1Co 15.6).
A ressurreição de Cristo precede a nossa ressurreição. Ele é a primícia dos que dormem (1Co 15.20), o primeiro a ressuscitar dos mortos como doador da mesma dádiva. Jesus é aquele que possibilita a nós a mesma realidade, a ressurreição para a vida eterna. Após o descanso do sono da morte, virá a ressurreição. O domingo pascal representa isto para nós. “Porque Cristo vive podemos crer no amanhã”, como diz o hino. Porque Ele vive, nós viveremos, porque Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. (cf. 1Co 15.12-19)
Dentro da tradição da Igreja Cristã ao longo da história, criou-se um conceito voltado para o oitavo dia. Como funciona esse conceito?
Deus criou a semana em sete dias, porém ao Cristo ressuscitar e este dia possuir um significado diferente dos outros, criou-se o conceito de um oitavo dia, que é o próprio domingo, mas não o primeiro, e sim o oitavo. Ou seja, o que vem para suceder o sétimo dia na questão do descanso.
Enquanto o sétimo dia estava relacionado ao descanso com ênfase na criação, o oitavo inaugura uma nova realidade que se inicia a partir da ressurreição de Cristo. O oitavo dia está relacionado à ressurreição e representa uma nova criação, uma nova era que começou com a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.
O domingo já não é mais apenas o primeiro dia; é o primeiro e o último, o primeiro e o oitavo, com a intenção de nos lembrar que em Deus tudo começa e termina, Ele é o Alfa e o Ômega. O oitavo dia traz consigo a esperança da ressurreição; com Cristo tudo se fez novo, uma nova criação transformada no poder do Espírito Santo se inicia com a ressurreição, uma nova Aliança que não se baseia mais no descanso semanal, mas no descanso eterno. Não mais no cumprimento da lei, mas na fé. Não mais na força do braço do homem para obedecer, mas no braço de Deus que concede misericórdia.
Nos encontramos em algum destes três dias: na quinta-feira da angústia, na sexta-feira da morte e sofrimento ou no sábado do descanso. O domingo da ressurreição já desfrutamos em parte ao relembrar todo domingo o Cristo que morreu por nós e ressuscitou, estamos na Páscoa de maneira especial relembrando a Sua morte e ressurreição como todo ano fazemos, porém quando de fato o dia do retorno de Jesus se cumprir, iremos neste dia ter então a plenitude do que representa a ressurreição, pois em nós iremos experimentar a glória do que Cristo experimentou. No atual momento vemos em parte como em um espelho, mas em breve veremos face a face.
Por Marlon Anezi
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