Há uns nove anos, porém, algo mudou. Fui convidado para pregar no domingo de Páscoa e, enquanto eu orava e pensava sobre o que falar, Deus começou a me mostrar a jornada de Cristo de uma forma que eu nunca tinha percebido. Foi como se um véu tivesse sido tirado, e eu enxerguei não apenas um calendário de eventos, mas um mapa para a nossa própria vida espiritual.
Desde então, eu carrego essa reflexão comigo.
Tudo começa na quinta-feira, o dia da angústia.
Eu fico imaginando o peso no coração de Jesus. No Getsêmani, Ele não estava apenas triste; Ele estava angustiado, sabendo exatamente o que viria pela frente: a traição, o abandono dos amigos, a dor física e, pior de tudo, o peso do pecado do mundo sobre Seus ombros. A humanidade d'Ele clamou. Ele, que era Deus, sentiu o que nós sentimos diante do sofrimento iminente.
E o que Ele fez? Buscou o Pai. Sua oração, “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu desejas!” (Lucas 22.42), se tornou um guia para mim. Quantas vezes eu também quis fugir da dor? Quantas vezes a angústia diante do futuro me paralisou? Eu percebi que a quinta-feira nos ensina que, mesmo no auge do medo, nosso lugar mais seguro é a rendição à vontade do Pai.
Depois, vem a sexta-feira, o dia do sofrimento e do silêncio de Deus.
Este é o dia mais escuro. O dia em que Jesus experimentou a separação total, gritando: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27.46). A verdade é que todos nós temos nossas sextas-feiras. São aqueles momentos de dor, de perda, de solidão, em que olhamos para o céu e a única coisa que sentimos é o silêncio. Momentos em que a nossa fé é testada ao limite e nos perguntamos se Deus realmente se importa.
Mas a beleza do Evangelho é que Jesus passou por isso por nós. Ele também viveu esse sentimento de abandono para que, quando nós o sentíssemos, soubéssemos que não estamos sozinhos. Como Paulo nos lembra, “quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor” (Romanos 14.8). A nossa sexta-feira não é o fim da história.
Então, chega o sábado, o dia do descanso e da espera.
No sábado, o corpo de Jesus repousou no túmulo. Para o mundo, era o fim. O silêncio era ensurdecedor. As mulheres que O seguiram também descansaram, como mandava a lei (Lucas 23.56). Parecia que nada estava acontecendo.
E na nossa vida? O sábado é aquele período de espera. Depois de uma grande luta ou de uma grande perda, vem a calmaria, o vazio. É o tempo em que a semente está debaixo da terra, invisível, silenciosa, mas não morta. Paulo chama isso de "dormir" em Cristo (1 Tessalonicenses 4.13-14). Talvez eu precise aprender a ver esses sábados não como um sinal de que Deus me esqueceu, mas como um tempo necessário de descanso, de silêncio, onde Ele está preparando algo novo, mesmo que eu não possa ver.
E, finalmente, a glória do domingo, o dia da ressurreição.
A pedra é rolada, o túmulo está vazio, e a esperança retorna ao nosso mundo. Jesus está vivo! A alegria que as mulheres e os discípulos sentiram é a mesma alegria que nos sustenta hoje. A ressurreição é a promessa de que nenhuma quinta-feira de angústia, nenhuma sexta-feira de sofrimento e nenhum sábado de espera terá a palavra final em nossa vida.
Porque Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. Como diz o conhecido hino: “porque Ele vive, posso crer no amanhã”. O domingo é a prova de que Deus sempre age, mesmo depois do silêncio mais intenso.
O oitavo dia: uma nova criação
E tem mais uma coisa linda que aprendi. Na tradição da Igreja, o domingo da ressurreição é chamado de “o oitavo dia”. Se Deus criou o mundo em sete dias, a ressurreição de Cristo inaugura uma nova criação, uma nova realidade. Não estamos mais presos ao ciclo antigo de pecado e morte. Em Cristo, tudo se fez novo. O oitavo dia é o início da eternidade que já começou em nós.
Eu não sei em que dia você está hoje.
Talvez você esteja vivendo uma longa quinta-feira, cheio de angústia pelo que está por vir. Talvez você esteja no meio da escuridão de uma sexta-feira, sentindo-se abandonado. Ou, quem sabe, você está no silêncio de um sábado, esperando que Deus se mova.
Onde quer que você esteja, eu quero te lembrar de uma coisa: o domingo sempre vem. A ressurreição é a nossa certeza. Por enquanto, vemos como num espelho embaçado, mas um dia veremos face a face. Aquele que prometeu é fiel para cumprir.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão tocou seu coração, salve-a para ler novamente nos dias difíceis ou compartilhe com alguém que precise se lembrar da esperança do domingo. Eu adoraria saber: qual desses "dias" mais descreve o seu momento atual? Deixe seu comentário abaixo.
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